

O dia de ontem (quinta-feira, 8 de fevereiro), pode mudar o destino do país. Pela primeira vez na história do Brasil, generais de quatro estrelas têm suas vidas invadidas, seus direitos vilipendiados e até mesmo suas liberdades ameaçadas, por determinação da justiça comum – civil – por supostos delitos praticados no exercício de suas funções laborais.
É como se não houvesse um Tribunal Militar para processar esses fatos – ou como simplesmente retirar do ordenamento jurídico o Código Penal Militar e toda a legislação Penal Militar – mais que isso: é como se não existissem as leis ou a própria Constituição Federal.
É como um delírio, só que é na vida real.
A escalada da ditadura que se instalou no país subiu mais um degrau, mas esse importante o do projeto de perpetuação do poder pode se revelar um verdadeiro tiro no pé.
Até mesmo o General Hamilton Mourão, nosso ex-vice-presidente do Brasil, apareceu no cenário com um discurso de arrepiar a alma no Senado Federal.
Mas por que não fez isso antes?
Porque agora é o dele que está na reta. Se praticaram pesca probatória na casa de generais quatro estrelas, colegas de cúpula do antigo governo – se começaram a achincalhar a vida de militares da mais alta patente, podem fazer o mesmo com ele.
Talvez, se o Gal. Mourão tivesse subido naquela tribuna há um ano atrás defendendo a ilegalidade das prisões de patriotas com a mesma febrilidade do discurso de ontem, o Brasil tivesse tomado outro rumo. Outros parlamentares seriam encorajados a peitarem o sistema.
Aliás, diga-se de agem, poucos parlamentares não sucumbiram às tentações da corrupção ou às extorsões, às chantagens pessoais que sofreram – ou teriam suas reputações assassinadas pela grande mídia (cúmplice) e processos judiciais retomados à todo vapor.
O fato é que já se ou um ano desde que esse novo parlamento assumiu e aqueles poucos parlamentares honestos que restaram para representar o povo brasileiro, vêm sendo perseguidos e massacrados pela ditadura. O Senador Marcos do Val que o diga, teve suas redes sociais bloqueadas e foi proibido de dar entrevistas.
Ontem o General Mourão convocou o povo brasileiro para uma reflexão visando combater as práticas ditatoriais que tomaram conta do país – típicas de países totalitários. Entretanto, o ponto alto do seu discurso foi bem mais além: convocou a cúpula das três Forças Militares para a mesma reflexão, como que denunciando a atuação do STF - uma atuação subversiva.
A mensagem subliminar de Mourão é “eles estão indo longe demais – alguém precisa parar essa ditadura sistêmica”.
Todos aqueles parlamentares e ícones da direita, opositores do governo e que ainda não foram calados, presos ou neutralizados de alguma forma, se expressaram nas redes sociais, diante das ilegalidades cometidas pela “Gestapo” da PF, sob o comando de Alexandre de Moraes. Porém, uma manifestação merece destaque – a do desembargador aposentado Sebastião Coelho.
O Dr. Sebastião sugere que o povo paralise a economia do país – que fique em casa. Sem tumulto, sem violência, sem bloquear estradas – sem praticar qualquer ilegalidade – na Santa Paz de Deus. Empresários, caminhoneiros, empregados, motociclistas – todos em casa – sem produzir impostos – por um mês.
Lembrou que as decisões criminosas proferidas por Alexandre de Moraes são referendadas por todos os demais ministros da Suprema Corte – e que todos esses demais ministros estão submetidos ao comando do primeiro – um absurdo. Por fim, Sebastião Coelho disse que Alexandre de Moraes deve ser preso e responder por todos os seus crimes.
A live de Sebastião Coelho foi produzida no Youtube com expressiva audiência e amplamente difundida nas redes sociais. O povo sabe de tudo o que está acontecendo no Brasil, mas está amordaçado pela ditadura terrorista imposta no país – quem abrir a boca, quem se manifestar, vai preso.
Só que agora a inquietude começa a tomar conta dos quartéis e o povo já está no seu limite. Como se não bastasse, as urnas com voto impresso e auditável não será adotada nas próximas eleições.
Juntando galho com bugalho...
Aquele homem que está no comando do STF, apesar de não ser o presidente da casa, aquele que vem condenando trabalhadores e pais de família em lotes de dezenas de pessoas, a 17 anos de cadeia, aquele que vem praticando todas essas arbitrariedades contra o povo, contra a liberdade de expressão e a democracia. é o mesmo homem que comandou as últimas eleições.
O pavio está curto e prestes a explodir.
Se todo esse circo midiático de ontem foi estrategicamente armado para preparar terreno e aproveitar os dias de carnaval para prender o Ex-Presidente Bolsonaro, quando o povo estará disperso caindo na folia, estará sacramentado o tiro no pé. Será o estopim.
Essa opressão já não causa mais medo, causa indignação. Uma hora esse caldo vai virar.
Imaginem o potencial lesivo das urnas brasileiras da era jurássica nas mãos de pessoas inescrupulosas – estamos vivendo a consequência macabra dessa conjugação.
Carlos Fernando Maggiolo
Advogado criminalista e professor de Direito Penal. Crítico político e de segurança pública. Presidente da Associação dos Motociclistas do Estado do Rio de Janeiro – AMO-RJ.